sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Conexão Jornalismo - Carta à Globo protesta contra declarações de Blinder e Mainardi

Carta de repúdio

Diante de tamanha barbaridade, intelectuais e entidades que lutam pela paz publicaram, no início desta semana, uma carta de repúdio contra os dois “calunistas”. “Manifestações como essas dos ‘agentes do Mossad’, Caio Blinder e Diogo Mainardi ferem as normas mais elementares da convivência civilizada. Esperamos que a Rede Globo se retrate publicamente, para dizer o mínimo, tomando distância de mais essa demonstração racista de barbárie”. Publico abaixo a íntegra do documento:

Srs. Diretores da Rede Globo



Causa profunda surpresa, indignação e perplexidade assistir a um programa de vossa emissora em que jornalistas, comentaristas e palpiteiros assumam a defesa explícita da prática de assassinatos como meio válido de fazer política. Isso foi feito abertamente, no dia 15.01.2012, por Diogo Mainardi e Caio Blinder, ambos empregados da Rede Globo.

Depois de fazer brincadeiras de gosto duvidoso sobre sua suposta condição de agente do Mossad (serviço secreto israelense), Caio Blinder alegou que os cientistas que trabalham no programa nuclear iraniano são empregados de um "estado terrorista", que "viola as resoluções da ONU" e que por isso o seu assassinato não constituiria um ato terrorista, mas sim um ato legítimo de defesa contra o terrorismo.

Trata-se, óbvio, de uma lógica primária e rudimentar, com a qual Mainardi concordou integralmente. Parece não ocorrer a ambos o fato de que o Estado de Israel é liderança mundial quando se trata em violar as resoluções da ONU, e que é acusado de prática de terrorismo pela imensa maioria dos países-membros da entidade. Será que Caio Blinder defende, então, o assassinato seletivo de cientistas que trabalham no programa nuclear israelense (jamais oficializado, jamais reconhecido, mas amplamente conhecido e documentado)? Ambos - o "agente do Mossad" Caio Blinder e Diogo Mainardi – se associam ao evangelista fundamentalista estadunidense Pat Robertson, que, em abril de 2005, defendeu em rede nacional de televisão, com "argumentos" semelhantes, o assassinato do presidente venezuelano Hugo Chávez, provocando comentários constrangidos da Casa Branca.

Ao divulgar a defesa da prática do assassinato como meio de fazer política, a Rede Globo dá as mãos ao fundamentalismo - não importa se de natureza religiosa ou ideológica - e abre um precedente muito perigoso no Brasil. Isso é inaceitável. Atenção: não defendemos, aqui, qualquer tipo de censura, nem queremos restringir a liberdade de expressão. Não se trata de desqualificar ideias ou conceitos explicitados por vossos funcionários. O que está em discussão não são apenas ideias.

Não são as opiniões de quem quer que seja sobre o programa nuclear iraniano (ou israelense, ou estadunidense...), mas sim o direito que tem uma emissora de levar ao ar a defesa da prática do assassinato, ainda mais feita por articulistas marcadamente preconceituosos e racistas. Em abril de 2011, o mesmo "agente do Mossad" Caio Blinder qualificou como "piranha" a Rainha da Jordânia, estendendo por meio dela o insulto às mulheres islâmicas.

Mainardi é pródigo em insultos, não apenas contra o Islã, mas também contra o povo brasileiro. Se uma emissora do porte da Globo dá abrigo a tais absurdos, mais tarde não poderá se lamentar quando outros começarem a defender, entre outras coisas, a legitimidade de se plantar bombas contra instalações de vossa emissora por quaisquer motivos, reais ou imaginários - por exemplo, como forma de represália pelas íntimas relações mantidas com a ditadura militar no passado recente, pela prática de ataques racistas contra o Islã e o mundo árabe, ou ainda pelos ataques contumazes aos movimentos sociais brasileiros e latino-americanos.

Manifestações como essas do "agente do Mossad" Caio Blinder e Diogo Mainardi ferem as normas mais elementares da convivência civilizada. Esperamos que a Rede Globo se retrate publicamente, para dizer o mínimo, tomando distância de mais essa demonstração racista de barbárie. Agradecemos a atenção.

Assinam os representantes e instituições:

- Hamilton Otavio de Souza - Editor Chefe da Revista Caros Amigos

- José Arbex Jr. - Chefe do Departamento de Jornalismo da PUC-SP

- Fabio Bosco - Central Sindical e Popular

- Francisco Miraglia Neto - Vice-Presidente Regional do ANDES-SN

- Reginaldo M. Nasser - Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da PUC-SP

- Marco Weisheimer - Editor da Carta Maior

- Socorro Gomes - Presidente do Centro Brasileiro para a Paz

- Soraya Misleh - Diretora de Imprensa do Instituto da Cultu ra Árabe

- Soraya Smaili - Vice-Presidente da Associação dos Docentes da UNIFESP

- Boris Vargaftig - Professor Titular da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências

- Isabelle Somma - jornalista e doutoranda de Historia Social da USP.

2 comentários:

  1. Sobre ofensas, assassinatos seletivos e má-fé


    Caramba, só faltou a onipresente alusão ao PiG, aquela invenção do PHA que incita à prática do gregarismo ideológico automático - estado de consciência em que frieza e discernimento passam à condição de adereços descartáveis, em prol de opinião coletiva, do oposto à Espiral do Silêncio de Noelle-Neumann, da própria Espiral do Barulho.

    Mas vamos por partes, e é coisa rápida, já que existe apenas uma parte. É aquela parte (ou partilha) estabelecida pela ONU, em 29 de novembro 1947, também conhecida por Resolução 181, a primeira a ser violada naquela região. Para os que desconhecem História, poucos meses após a aprovação da dita resolução, mais precisamente em maio de 1948, uma aliança militar composta por mais de dez países vizinhos tentou - segundo as próprias palavras de ordem - "empurrar o Estado de Israel para o mar". Tudo o mais daí decorre.

    Já o resto não é parte, mal chega a ser partícula.

    Dizer que Caio Blinder, ao qualificar a Rainha da Jordânia como 'piranha' (em que contexto não pinçado?), estendeu o insulto ao Islã (ou somente às mulheres islâmicas? há que decidir), soa a tentativa de incendiar copo d'água.

    Aceitando-se este artifício de pura e rasa provocação - case emblemático do que ora batizo de "vitimismo alheio" - posso tomar como vil ofensa pessoal coisas como "framenguista malcheiroso" e outros mimos de guerra de torcidas, simplesmente pelo fato de eu torcer pelo Flamengo. Menos, né? O fato de a supostamente ofendida ser da casa real atinge exata e somente isso, a ofendida e a casa real. Aí cessam as motivações para a prática do tal vitimismo alheio; qualquer extensão para todo o Islã(!) soa a índice de fantasia e má-fé ideológicas. E, muito cá entre nós: a aludida rainha sequer sabe que existem Rede Globo, Binder e Mainardi. Então, de novo: menos, né? A menos que haja procuração da casa real jordaniana para que os subscritores exijam retratação. Aí a coisa muda de figura, o que me faz retirar meu humilde pônei da chuva, de imediato.

    Quanto a assassinatos seletivos, o que dizer dos mísseis e homens-bomba que atingem certeira e seletivamente pizzarias e ônibus escolares? Ou do cadeirante de 69 anos de idade atirado ao mar, por sobre a amurada do Achille Lauro? Como não se diz nada, ficamos assim, que cesse então a censura ensaiadamente indignada, de era militar herdada.

    Mas há uma coisa, uma única coisa, a dizer sobre outra comparação hiperbólica, sobre o "agente do Mossad" Caio Blinder e Diogo Mainardi "se associarem ao evangelista fundamentalista estadunidense Pat Robertson, que, em abril de 2005, defendeu em rede nacional de televisão, com "argumentos" semelhantes, o assassinato do presidente venezuelano Hugo Chávez, provocando comentários constrangidos da Casa Branca": far stretch, try again. Hugo Chávez não mata crianças estadunidenses no interior de ônibus escolares. Ponto.

    Mas o pior é ver este texto endossado por jornalista, doutorando em Historia Social e demais portadores de apodos considerados credenciais de método, lucidez e sobriedade. Especificamente a estes, recomendo voltarem-se às resoluções da ONU e suas centenas de violações. Começando pela primeira. Caso contrário, isso jamais passará do exercício que faz a galinha ao correr atrás do próprio ovo. Ou vice-versa.

    É engraçado como "resolução" rima com "violação", apesar de não ser, nem de longe, uma solução. Aliás, usar táticas da Rede Goëbbels contra ela própria também não soluciona nada, faz pior: acentua mais as afinidades que as diferenças.

    PS: dispenso de antemão os "tucanalha", "serrista", "pró-Globo" e outras estreitezas de discurso que caracterizam os que só enxergam preto e branco, desconsiderando toda a gama de cinza que existe entre os extremos. Se é que extremo é algo a ser considerado - o fogo do extremo soe produzir calor temporário mas cinzas permanentes.

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  2. O aspecto da resolução que pareceu ofender e chegar as raias da xenofobia foi a descrinalizacao do assassinato. A crueldade e barbareza estão em homens bombas que atuam em Tel Aviv ou naqueles que instalam bombas em carros no Ira. E de antemão há de se respeitar todos os homens e mulheres. Na mesma proporção que se confere a jornalistas e prostitutas.

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