terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Conexão Jornalismo - Morre Russão, o maior torcedor do Botafogo da "Era do Jejum"

um menino chamado Russão
João Faria da Silva, 62 anos, poderia ter sido médico, engenheiro, professor ou pastor de igreja evangélica. Na verdade ele poderia ter sido qualquer coisa na vida não tivesse sido arrebatado, ou abduzido, pelo Botafogo de Futebol e Regatas.
Aos 18 anos, já contaminado pelo vírus alvinegro, altamente nocivo a saúde do coração, Russão fundou uma torcida que resumiria seu futuro como homem e chefe de família: "Fogo Duro". Destinada àqueles que, como ele, não tinham dinheiro para pagar ingresso e entravam escondidos no Maracanã.
Depois do bicampeonato nos anos 60, o Botafogo amargaria 21 anos de jejum. E Russão, que era da Torcida Jovem, acabou por se desentender e fundar a própria torcida que também revelava um tanto da sua personaldiade: Folgada.
Mas que folga nada! Russão não dormia. Cedo, corria para os treinos do Botafogo, em Marechal Hermes. A tarde, o recreativo. A noite, quando necessário, seguia para General Severiano articular com dirigentes e compras ou dispensas de jogadores. De personalidade forte, este russo carioca era respeitado e temido por todas as torcidas. Ele era a reencarnação de Tarzan, um outro grande torcedor alvinegro, mais feliz do que Russão como espectador de futebol. Russão viveu toda a amargura da ausência de títulos. Mas não acusava o golpe. Vibrava.



Lembro de uma partida em 1981 quando o Botafogo, através de Russão, fez um apelo para a torcida comparecer ao Maracanã. O time, o do salário mínimo, sem caixa, enfrentaria o Flamengo de Zico, Andrade, Adílio e Nunes. Foi uma das poucas vezes que vi alvinegros e rubro negros dividirem o anel superior do maior do mundo. O jogo terminou 0 x 0. Isso significava mais um ano sem título. Mas em vez de vaias ou do silêncio, Russão pediu aplausos para os bravos jogadores que compunham a equipe do salário mínimo. E toda a torcida aplaudiu. O título mesmo só viria oito anos depois. Em 21 de junho de 1989. E quis o destino que Russão testemunhasse. Ele que morreu hoje de manhã vítima de diabetes e complicações renais. Tinha 62 anos. Mas passa para a história como um garoto apaixonado pelo Botafogo.

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