um menino chamado Russão |
Aos 18 anos, já contaminado pelo vírus alvinegro, altamente nocivo a saúde do coração, Russão fundou uma torcida que resumiria seu futuro como homem e chefe de família: "Fogo Duro". Destinada àqueles que, como ele, não tinham dinheiro para pagar ingresso e entravam escondidos no Maracanã.
Depois do bicampeonato nos anos 60, o Botafogo amargaria 21 anos de jejum. E Russão, que era da Torcida Jovem, acabou por se desentender e fundar a própria torcida que também revelava um tanto da sua personaldiade: Folgada.
Mas que folga nada! Russão não dormia. Cedo, corria para os treinos do Botafogo, em Marechal Hermes. A tarde, o recreativo. A noite, quando necessário, seguia para General Severiano articular com dirigentes e compras ou dispensas de jogadores. De personalidade forte, este russo carioca era respeitado e temido por todas as torcidas. Ele era a reencarnação de Tarzan, um outro grande torcedor alvinegro, mais feliz do que Russão como espectador de futebol. Russão viveu toda a amargura da ausência de títulos. Mas não acusava o golpe. Vibrava.
Lembro de uma partida em 1981 quando o Botafogo, através de Russão, fez um apelo para a torcida comparecer ao Maracanã. O time, o do salário mínimo, sem caixa, enfrentaria o Flamengo de Zico, Andrade, Adílio e Nunes. Foi uma das poucas vezes que vi alvinegros e rubro negros dividirem o anel superior do maior do mundo. O jogo terminou 0 x 0. Isso significava mais um ano sem título. Mas em vez de vaias ou do silêncio, Russão pediu aplausos para os bravos jogadores que compunham a equipe do salário mínimo. E toda a torcida aplaudiu. O título mesmo só viria oito anos depois. Em 21 de junho de 1989. E quis o destino que Russão testemunhasse. Ele que morreu hoje de manhã vítima de diabetes e complicações renais. Tinha 62 anos. Mas passa para a história como um garoto apaixonado pelo Botafogo.
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