domingo, 18 de março de 2012

Assassinatos de moradores de rua não chocam o país: 165 mortes em 11 meses

Coerência: ignorados em vida e na morte

Por Altamiro Borges

O Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores (CNDDH) divulgou nesta quinta-feira (15) números chocantes sobre a barbárie que impera no país, alimentada pelo preconceito e pelo ódio elitista. De abril de 2011 até a semana passada, 165 moradores de rua foram friamente assassinados – o que representa uma morte a cada dois dias.


Segundo a coordenadora do CNDDH, Karina Vieira Alves, em 113 destes casos as investigações policiais não avançaram e ninguém foi identificado ou punido pelos homicídios. O órgão também registrou outras 35 tentativas de assassinatos, além de vários casos de lesão corporal. Karina alerta que estes números não traduzem a real violência, já que muitos crimes sequer são notificados.

Escalada de violência

Já o “Disque 100”, serviço mantido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, registrou 453 denúncias de violência contra a população de rua em 2011. Elas incluem tortura, abuso sexual e discriminação. “Sabemos que há problemas muito graves que não são denunciados”, afirma a coordenadora-geral da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, Ivanilda Figueiredo.

Na semana passada, em reunião extraordinária do Comitê Intersetorial de Monitoramento da População em Situação de Rua, em Brasília, entidades representativas dos moradores de rua garantiram que está em curso uma escalada da violência, que a mídia sensacionalista omite. As recentes mortes e agressões no Distrito Federal e em Mato Grosso do Sul não foram casos isolados.

“Estamos lutando para não morrer”

“Eu todo dia recebo e-mails sobre mortes de moradores de rua. Elas estão acontecendo e vão continuar ocorrendo. Por isso, queremos uma ação enérgica do governo federal”, declarou Anderson Lopes, representante paulista do Movimento Nacional de População de Rua.

Já o representante mineiro do movimento, Samuel Rodrigues, alertou: “Vivemos um momento bastante triste. Em 2004, o movimento nacional surgiu em função de uma morte. Naquele momento, discutíamos os direitos da população de rua. Hoje, estamos aqui discutindo o seu extermínio. Estamos lutando para não morrer”.

Ação dos grupos de extermínio

Durante a reunião, a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, mostrou-se bastante indignada com a grave situação, segundo relato da Rede Brasil Atual. “Temos a responsabilidade de responder diretamente a esta escalada de violência e de mortes que estão ocorrendo nas ruas. Não se trata mais de fatos isolados”, afirmou a ministra.

Ela também criticou a ação de grupos de extermínio que agem em vários estados. “São grupos que banalizam a violência e que não reconhecem em quem está nas ruas a condição humana”. Segundo o Disque 100, as unidades da Federação com o maior número de denúncias em termos absolutos foram São Paulo (120), Paraná (55), Minas Gerais e o Distrito Federal, ambos com 33 casos.

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