quinta-feira, 8 de março de 2012

Coração Partido - A síndrome que vem do acúmulo de afazeres impostos ao sexo frágil

Signorelli: "Somos mesmo o sexo fisicamente frágil?" 
Claudia Signorelli é cardiologista e estudiosa do seu ofício. E acaba de publicar na sua página da Internet um artigo que fala sobre a síndrome do coração partido - um problema que está relacionado a angústia acumulada por longos períodos de frustração nos campos pessoal, amoroso, profissional ou familiar.

Por Claudia Signorelli (http://cardiologistaonline.blogspot.com)


Meninas... Pra abrir nossos olhos! Broken Heart Syndrome - Síndrome de Takotsubo

Mais uma vez a ciência tenta explicar pra gente algo que, de uma forma pouco precisa, já imaginávamos que fosse verdade. Estresse, mágoa e ressentimento podem promover doenças. E podem ser muito graves. 

No início desta década, cientistas japoneses descreveram um conjunto de sintomas observados principalmente em mulheres, após a menopausa,sob a ação de estresse emocional muito intenso e por período prolongado de tempo, geralmente associado a raiva e ressentimentos. Essas mulheres eram admitidas no serviço de emergência com dores no peito, alterações no eletrocardiograma, exames de sangue demonstrando o aumento dos marcadores de lesão miocárdica (enzimas cardíacas) e ainda alterações na função contrátil do ventrículo esquerdo (VE) ao ecocardiograma. Diante desse quadro, as pacientes eram diagnosticadas como portadoras de dç coronariana aguda, e eram submetidas ao cateterismo cardíaco. Até aqui, nenhuma novidade. Mas, nessas pacientes, as artérias coronárias estavam normais, sem lesões obstrutivas. A ciência estava diante de uma série de pacientes, cujos sintomas e resultados de exames apontavam para o diagnóstico de doença obstrutiva das coronárias, mas elas eram normais. Ao estudar 88 pacientes, ficou demonstrado que havia uma alteração contrátil típica deste grupo de pacientes, comprometendo a função das porções médiais e da ponta do VE. Esse padrão contrátil alterado, mudava o formato do coração que se tornava semelhante a uma armadilha de prender polvo (em japonês tako-tsubo). E, o mais surpreendente de tudo, dando ao coração boas condições de repouso através de medidas avançadas de suporte à vida, a sua função era completamente restabelecida na grande maioria dos casos no decorrer de poucas semanas. Esta sínrome foi descrita como a Síndrome do Atordoamento (catecolaminérgico ou neurogênico) Transitório do Miocárdio, ou mais tarde denominada Miocardiopatia do Estresse. As catecolaminas são os hormônios do estresse, e nessa síndrome, a catecolamina mais implicada é a noradrenalina. Isso ficou claro ao observarem pacientes portadores de um tipo especial de tumor, o feocromocitoma, que cresce na glândula supra renal, e produz quantidades muito grandes de noradrenalina. Alguns pacientes portadores de feocromocitoma também apresentaram as mesmas alterações miocárdicas, que de igual modo regrediram após a retirada do tumor.
A maneira como a noradrenalina promove o atordoamento transitório do músculo cardíaco ainda permanece obscura. Mas, a relação de causa efeito entre o evento promotor do estresse e a doença cardíaca já esta plenamente estabelecida.
Sabendo dessa relação e do fato de que 80% dos pacientes acometidos são mulheres após a menopausa, fica a pergunta: Será que, finalmente, está provado o óbvio? Será verdade que, apesar de agirmos como se ñ fosse assim, somos mesmo o `sexo fisicamente frágil´ que ousou posar de forte, agiu como se forte fosse, sentiu o peso de assumir mais funções do que podia fisica e emocionalmente, e agora paga o preço das escolhas que fizeram por nós? Digo fizeram porque tomo para mim a ousadia de falar por mulheres que, como eu, estão entrando na 5ª década da vida, e declaro que nós ñ fizemos essas escolhas: Nós crescemos imersas numa cultura `do novo´, onde éramos vistas pela geração anterior como sendo absolutamente capazes de assumir os papéis feminimos já bem estabelecidos pelas tantas outras gerações pregressas, além de qualquer outra função que se fizesse necessária, desde amante, administradora do lar, provedora, agentes da saúde dos pais, cônjuge e filhos, perseguidoras da boa forma, gerentes de uma juventude arrastada, enfim... Nós realmente nos vimos como sendo capazes de absorver e destrinchar com maestria tantos papéis quantos nos fossem apresentados. E, cá entre nós, provamos pra nós mesmas (e pra quem mais necessário fosse) que somos, se não perfeitas, ao menos suficientes. E agora? Se a geração que nos precede começa a sinalizar que a sobrecarga tem consequências... qual será nossa postura?
É claro que não temos gerência sobre as surpresas que a vida teve, tem e terá reservadas para nós. Mas, sempre teremos o poder de reagir a elas de forma construtiva ou destrutiva. Nosso desafio é: reduzir ao máximo o hiato informação /mudança de atitude, e seguir realizando em nós as mudanças que queremos ver nos outros!
Check mate!

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