segunda-feira, 5 de março de 2012

Conexão Jornalismo - Cachoeira preso na casa que "pertenceu" a Perillo - Isso você não vê na TV



Governador de Goiás vendeu o imóvel em Alphville de Goiás por R$ 1,4 milhão, mas comprador não levou a casa.
O corretor, que está preso, a pediu emprestado.
 E foi justamente nesta casa que o contraventor Carlinhos Cachoeira, chamado de “professor” pelo senador Demóstenes Torres, acabou sendo preso.


Do sítio Brasil 247 

Em Goiás, o bicheiro Carlinhos Cachoeira se sentia em casa. Tão em casa que explorava cassinos sem ser incomodado pela polícia. Além disso, era chamado por políticos proeminentes, como o senador Demóstenes Torres (DEM/GO), por “professor” . Se isso não bastasse, ele também morava numa casa que pertenceu ao governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB. Uma mansão no condomínio Alphaville Ipês, em Goiânia.
A grande dificuldade, agora, tem sido explicar a transação imobiliária que fez com que a casa que foi de Marconi passasse a ser de Cachoeira. Oficialmente, ela foi vendida por R$ 1,4 milhão em janeiro do ano passado para o empresário Walter Paulo Santiago, muito embora o governador tenha apresentado uma declaração de bens inferior a R$ 500 mil.


O comprador pagou essa pequena fortuna, mas não fez questão de levar o imóvel. Diz ter emprestado a casa ao corretor – o ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Wladimir Garcez, que é do PSDB e também foi preso na Operação Monte Carlo, em razão de suas ligações próximas com Carlinhos Cachoeira.
Agora, sabe-se que quem morava na casa vendida por Marconi ao empresário Santiago e emprestada por este ao corretor Garcez era o próprio Cachoeira. Estranho, não?
Abaixo, o noticiário do jornal “O Popular”:
‘Casa foi emprestada a Wladmir’
Walter Paulo Santiago, dono da Faculdade Padrão, confirma que comprou casa de governador em 2011, mas alega que não a recebeu
Fabiana Pulcineli, 03 de março de 2012
“Foi feito o negócio direitinho, peguei a escritura. Eu sabia que a casa era do governador, mas nunca falei com ele sobre isso. O senhor Wladmir é que fez os contatos. O governador assinou honestamente e a casa é minha.“Ele me pediu prazo até dia 15 de fevereiro porque a obra da casa da senhora atrasou. Eu falei que esperaria. Tudo normal.” Walter Paulo Santiago, da Faculdade Padrão, sobre a negociação da casa no Alphaville Ipês. 
O empresário Walter Paulo Santiago confirmou ontem que comprou a casa que pertencia ao governador Marconi Perillo (PSDB), no Residencial Alphaville Ipês, em janeiro do ano passado, mas disse que ainda não a recebeu. Segundo ele, o ex-vereador Wladmir Garcêz, que serviu de “corretor” no negócio, pediu emprestada a casa para que uma mulher morasse temporariamente.
O POPULAR revelou ontem que o empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na casa que foi de Marconi entre 2007 e o início de 2011. A Operação Monte Carlo, deflagrada na quarta-feira pela Polícia Federal, investiga esquema de jogos ilegais.
Mais de um ano depois da compra, Walter diz que a casa ainda não foi entregue e que não há pagamento de aluguel. O empresário, proprietário da Faculdade Padrão, afirma que não tinha conhecimento de quem morava no local e que não tem pressa em receber o imóvel, adquirido no valor de R$ 1,4 milhão.
Walter conta que foi procurado por Wladmir – também preso na operação – para saber se ele tinha interesse em comprar a casa. Ele afirma que não estava procurando, mas decidiu presentear a filha. “Tenho três filhas. Duas já casaram. Aí comprei a casa para quando essa outra quiser casar. Ela tem 25 anos. Ainda não tem previsão de casamento”, diz.
O empresário afirma que a casa está em nome de uma das firmas da família, mas não quis dizer o nome. “Foi feito o negócio direitinho, peguei a escritura. Eu sabia que a casa era do governador, mas nunca falei com ele sobre isso. O senhor Wladmir é que fez os contatos. O governador assinou honestamente e a casa é minha.”
Fechado o negócio, Walter conta que o “corretor” pediu a casa emprestada por 45 dias para que “uma senhora que decorou a casa” morasse até que a residência dela, que estava sendo construída também no Alphaville, fosse finalizada. De 45 dias, o empréstimo passou para meses. O proprietário da casa afirma que ligou para Wladmir no fim do ano passado para perguntar da casa. “Ele me pediu prazo até dia 15 de fevereiro porque a obra da casa da senhora atrasou. Eu falei que esperaria. Tudo normal”, conta.
Walter diz que ainda está esperando, mas não faz cobranças porque não está precisando da casa. “Minha filha ainda não vai casar e eu não vivo de aluguel. Não preciso da casa agora”, justifica. “Ele esqueceu de entregar. Não tem problema algum. É tudo de boa-fé. Não existe nenhum medo de não receber a casa, nada disso”, completa.
Apesar da demonstração de confiança, Walter diz não ser amigo de Wladmir. “Não somos amigos. Ele me procurou perguntando se eu gostaria de comprar uma casa. Como minha filha precisaria, eu comprei. Não sei da vida dele, não sei nada. Não tenho outro assunto com ele a não ser a casa. Mas não existe nada errado dessa casa”, afirma.
Walter também diz que não tem “nenhuma amizade” com Cachoeira. “Conheço por nome. Já vi algumas vezes, mas não tenho nenhuma intimidade, nenhuma amizade, também não tenho nada contra ele. Nada, nada, nada.” Embora frequente o Alphaville, onde a ex-mulher e a filha moram – em outra casa –, Walter afirma que ninguém da família tinha conhecimento dos moradores da nova casa. “Fui na casa antes de comprar. Achei bonitinha, é um condomínio de primeiro nível, perto da minha família. Pequenininha, mas bonitinha. Aí depois nunca mais voltei lá. Nunca vi quem mora.”
O governador disse na sexta-feira que não sabia que Cachoeira morava na casa. “Foi um negócio normal, fechado há um ano e já devidamente declarado no Imposto de Renda deste ano. Essa pergunta (sobre o morador) tem de ser feita ao proprietário da casa”, afirmou o tucano.
“Eu li a reportagem. Tudo que o governador falou foi verdadeiro. Eu não conversei com ele, não falamos disso, eu estava viajando. Mas é tudo verdade. Não há nenhum problema. Está tudo bacana”, disse Walter.
As investigações da Operação Monte Carlo mostraram troca de torpedos de celular entre o governador e Wladmir. Segundo o governador, as mensagens tratavam do negócio da casa e de questões políticas, já que o ex-vereador o apoiou nas eleições de 2010.
Walter foi candidato a vereador por Goiânia nas eleições de 2008 pelo PTC. Na época, declarou à Justiça Eleitoral que não tinha bens. Teve 5.219 votos.
Reportagem da revista Época, publicada na sexta-feira no site, também mostrou relações de Cachoeira com outros políticos goianos, especialmente com o senador Demóstenes Torres (DEM), que é citado nas investigações como grande amigo do empresário preso. As gravações citam ainda conversas com os deputados federais Jovair Arantes, líder do PTB na Câmara e pré-candidato a prefeito de Goiânia, Carlos Alberto Lereia (PSDB) e Sandes Júnior (PP). O inquérito também afirma que Cachoeira indicou pessoas para nomeações em cargos públicos no Estado.
Marconi afirmou ao POPULAR que nunca recebeu indicações de Cachoeira e que o governo não fez negócios com o empresário. 

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