quinta-feira, 1 de março de 2012

Conexão Jornalismo - Crise européia pune principalmente população jovem


Taxa de desemprego passa de 1/5 da população economicamente ativa da Espanha, entre os mais jovens o drama é ainda maior, chega a 50%.  O capitalismo fracassa e traz sofrimento aos povos

Da Carta Capital

Taxa de desocupação jovem mina a Zona do Euro
De todos os vários problemas da Zona do Euro, o desemprego entre os jovens talvez seja o mais perturbador. O índice nesta faixa da população é de aproximadamente 30% em Portugal e quase 50% na Espanha. O desemprego acima da média é a norma entre os jovens, mesmo em mercados mais liberais como o dos Estados Unidos. Mas a taxa de desocupação jovem na Espanha saltou quase 20 pontos percentuais entre 2007 e 2009, comparado com um aumento de 7 pontos nos EUA. As regulamentações do mercado de trabalho têm grande parte da culpa: enquanto trabalhadores mais velhos e difíceis de demitir se regalam com contratos permanentes, os jovens são geralmente contratados em base temporária, e mais fáceis de demitir

Esses mercados de trabalho “duplos” são produtos da reforma. Embora o desemprego americano tenha rapidamente caído depois dos distúrbios dos anos 1970 e início dos 80, o europeu continuou emperrado em altos níveis. Os líderes reconheceram a necessidade de injetar mais flexibilidade no mercado de trabalho, mas sindicatos poderosos evitaram um ataque frontal aos direitos dos trabalhadores. A resposta foi criar uma classe de empregados menos protegida.

A dor da Espanha
A experiência espanhola é instrutiva. Enquanto o índice de desemprego se aproximava de 20% em meados dos anos 1980, o governo adotou contratos de prazo fixo, entre seis meses e três anos, que eram submetidos a custos menores de demissão que os dos trabalhadores com contratos de prazo aberto. No fim de um contrato de três anos as firmas poderiam transformar o trabalhador em empregado permanente ou rejeitá-lo. As reformas deram resultados. O desemprego caiu de quase 18% quando as ações começaram em 1984, para cerca de 14% seis anos depois.

Mas as reformas também tiveram consequências indesejadas. Os contratos temporários aumentaram, em breve representando cerca de um terço do emprego espanhol. Os trabalhadores voavam de emprego em emprego: apenas 6% dos contratos temporários se transformaram em empregos permanentes durante meados de 2000. Quando a economia decrescia, os empregados eram dispensados em números maiores e o índice de desemprego aumentava mais depressa que antes. Os que tinham maior probabilidade de serem empregados com contratos temporários, como os jovens, suportaram a maior dor. A longa expansão da Zona do Euro, de meados dos anos 1990 até a crise de 2008, disfarçou muitos desses problemas. Um boom na construção ajudou o desemprego espanhol a recuar abaixo de 10%, mesmo enquanto a imigração subia. Mas a crise expôs novamente as velhas fraquezas.

A volatilidade é apenas um custo dos mercados de trabalho duplos. A rotatividade no emprego frequente torna as finanças domésticas menos seguras, tornando mais difícil poupar regularmente para a velhice, por exemplo. Mais importante, o emprego temporário desencoraja as empresas a investir em seus funcionários. O custo de um empregador transformar um contrato temporário que vai expirar em um permanente é muito alto, por causa de um salto descontínuo no custo para demitir o trabalhador. Por isso há um incentivo para se livrar dele quando seu contrato termina e investir pouco em seu treinamento.

Esse subinvestimento sistemático arrasta inexoravelmente para baixo a produtividade. Um estudo de 2011 feito por Juan Dolado, da Universidade Carlos III em Madri, Salvador Ortigueira, do Instituto Universitário Europeu, e Rodolfo Stucchi, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, situa em 20% a desaceleração da produtividade na manufatura espanhola entre 1992 e 2005, com trabalho temporário. Os jovens são especialmente prejudicados. Entre 2005 e 2007, aproximadamente 80% dos trabalhadores espanhóis de 16 a 19 anos estavam sob contratos temporários, comparados com 32% dos de 30 anos e 24% dos de 40. A falta de treinamento poderá pesar sobre eles durante toda a sua vida ativa.

Um único contrato de trabalho de prazo aberto, em que o pagamento por demissão aumenta constantemente com o tempo de serviço, deveria aumentar o incentivo para as firmas manterem mais funcionários por mais tempo e investirem mais no capital humano de novos trabalhadores. Proteções incrementais também deveriam moderar as oscilações no emprego. Um estudo dos mercados de trabalho francês e espanhol revelou que o recente aumento do índice de desemprego na Espanha poderia ter sido cortado em um terço se o país tivesse seguido o exemplo francês de um gradiente mais raso entre as faixas do mercado de trabalho.

Nessa altura, os defensores do modelo poderiam apontar para a Alemanha, onde o índice de desemprego jovem é de apenas 7,8% e o desemprego em geral está em seu nível mais baixo em décadas. Em muitos sentidos, o mercado de trabalho da Alemanha espelha o de seus pares. Ele também reagiu à euroesclerose com contratos flexíveis de segunda classe. Cargos permanentes protegidos por regras de emprego fortes ainda dominam seu mercado de trabalho.

Mas a Alemanha também buscou maior flexibilidade em outras áreas. O trabalho em tempo parcial tornou-se cada vez mais comum: o programa Kurzarbeit, em que as firmas reagiram à recessão cortando horas, em vez de funcionários, é apenas o último exemplo dessa abordagem. O melhor desempenho da Alemanha também contou com benefícios do emprego cada vez mais ralos, o que aumentou a oferta de mão-de-obra e reduziu a pressão salarial. Cláusulas em acordos de dissídio coletivo permitiram que firmas individuais evitassem acordos salariais quando as pressões competitivas o exigiam.

Objetivo duplo
A Alemanha pode ter perseguido a restrição salarial, mas esse não é um caminho fácil para a prosperidade. De fato, os mercados de trabalho duplos têm maior probabilidade de ter o efeito contrário. Os trabalhadores permanentes destemidamente procuram salários maiores, confiantes de que as perdas de empregos vão recair primeiro sobre os trabalhadores temporários. O aumento do desemprego espanhol produziu pouca moderação salarial. Durante 2009 a remuneração de trabalhadores permanentes aumentou 4% em termos reais.

E por mais atraente que seja o modelo alemão hoje, ao longo de décadas os índices de desemprego americanos são difíceis de equiparar. A preferência anglo-saxã por pequena ou nenhuma proteção ao emprego talvez seja mais eficaz para arrebanhar trabalhadores de indústrias em declínio para as crescentes, promovendo a criação de empregos e a inovação. Os mercados de títulos indigestos hoje estão empurrando a Espanha e outros países para reformas que tornam mais fácil e mais barato demitir os trabalhadores novamente. Já estava na hora.

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