Policiais dão sorte quando apostam no bicho |
POR | Adriana Cruz & Gabriela Moreira |
Rio - O jogo do bicho teria dado R$ 1,1 milhão em propina a agentes da lei. Na sentença da juíza da 6ª vara criminal federal, Ana Paula Vieira de Carvalho — que condenou 23 acusados por envolvimento com a contravenção e também a máfia dos caça-níqueis e bingo — tabelas mostram os pagamentos destinados a policiais civis, militares e federais.
O grosso do pagamento ia para policiais civis que teriam recebido R$ 848 mil. Entre os condenados estão três delegados e um agente da Polícia Federal, além de um policial civil. Eles eram ligados aos chefões do jogo Aniz Abraão David, o Anísio; Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães; e Antônio Petrus Kalil, o Turcão, condenados e presos.
Dos 23 condenados, a Justiça mandou prender 10. Desses, dois estão foragidos: José Renato Granado Ferreira e Marcelo Calil, filho de Turcão.
Segundo a sentença, Júlio Guimarães, sobrinho de Capitão Guimarães, era o responsável pelos principais contatos, inclusive, com a cúpula da Chefia da Polícia Civil. Chegava a dar ordens para a confecção de relatórios sobre a ação das delegacias contra o jogo do bicho. A relação foi comprovada durante a Operação Furacão, da PF, em 2007, com a apreensão da cópia da ata de reunião, em 16 de março de 2007, entre a cúpula da Chefia da Polícia Civil e diretores de departamento do órgão. No escritório de Júlio, foram apreendidos mais de R$ 4 milhões.
No esquema de corrupção, o policial civil Marcos Bretas, ligado a Júlio Guimarães, era a peça-chave. Gravações telefônicas entre Bretas e outro investigado mostra possível negociação de aumento da propina para agentes. A dupla fala de valores entre R$ 25 mil e R$ 30 mil para uma delegacia de polícia, como se fosse bônus.
Bretas foi condenado. A decisão condenou ainda os delegados federais Carlos Pereira da Silva, Susie e Luiz Paulo Dias de Mattos e o agente federal Francisco Martins da Silva. Eles serão punidos por crimes como corrupção, violação de sigilo profissional e quadrilha.
As penas variam de cinco a 18 anos de prisão. Na sentença há menção a financiamento de campanhas de políticos no valor de R$ 23 mil e repasse de R$ R$ 61 mil a prefeituras.
Processo pode levar Anísio, Capitão Guimarães e Turcão de novo à prisão
O revés dos bicheiros pode se agravar nas próximas semanas. Isso porque Anísio, Capitão Guimarães e Turcão podem ser condenados e ter suas prisões decretadas em um outro processo, que corre na Justiça Federal. A ação, que está em fase de alegações finais, trata do crime de lavagem de dinheiro, consequência de investigações também a partir da Operação Furacão.
Outras 12 pessoas são réus neste processo de lavagem. Além da cúpula, o filho de Turcão, Marcelo Calil, e o sobrinho de Capitão Guimarães, Júlio, podem ser condenados novamente, assim como o empresário José Renato Granado Ferreira. Outros seis acusados, entre eles o ex-ministro Paulo Medina, ainda vão ser julgados pela Justiça Federal do Rio. Eles começaram a responder ao processo em 2007, em função do foro privilegiado, no Supremo Tribunal Federal. Mas já que perderam o privilégio, como é o caso de Medina, que foi aposentado, o ministro Gilmar Mendes determinou a transferência da ação para o Rio. Essa mudança não ocorreu ainda por que há dois recursos a serem julgados pela Corte.
Tudo acaba em samba
Presos terça-feira, Aílton Guimarães e outros quatro condenados estão em celas individuais no presídio de segurança máxima Alfredo Tranjan, conhecido como Bangu II, no complexo de Gericinó. O grupo ocupa a mesma galeria onde também cumpre pena de 23 anos o contraventor Wilson Vieira Alves, o Moisés.
Ex-presidente da escola de samba Vila Isabel, ele foi condenado em outro processo, também na Justiça Federal, por envolvimento com o jogo do bicho. Em Bangu II, há 1.100 presos.
Também condenados, Anísio está em prisão hospitalar e Turcão cumpre a pena em casa, em Niterói. Ontem ainda continuavam foragidos da Justiça dois condenados da Operação Furacão. São eles o empresário José Renato Granado Ferreira, braço internacional da quadrilha, e Marcelo Calil, filho de Turcão, que assumiu os ‘negócios’ do pai.
Sentença apesar de ameaças
Zelosa, dedicada e meticulosa são alguns dos adjetivos usados por ministros do STJ e STF para referendar decisões da juíza Ana Paula Vieira de Carvalho.
A sentença que atribuiu à quadrilha — as penas somadas passam de 400 anos de prisão — mostrou mais do que zelo. Foi corajosa ao sentenciar um grupo que, durante os cinco anos de processo, chegou a ameaçá-la de morte. Até hoje, os bicheiros só foram condenados por juízas mulheres — Denise Frossard foi a primeira, há 19 anos.
“Intimidações aos juízes viraram praxe”, disse ela a O DIA, há um ano. Em2007, a PF descobriu que a máfia dos caça-níqueis desarticulada pela Operação Furacão teria plano para executá-la. Em 2009, recebeu DVD com imagens de homens com malas de dinheiro. Seriam policiais recebendo propina para matá-la. Ninguém foi identificado.
No esquema de corrupção, o policial civil Marcos Bretas, ligado a Júlio Guimarães, era a peça-chave. Gravações telefônicas entre Bretas e outro investigado mostra possível negociação de aumento da propina para agentes. A dupla fala de valores entre R$ 25 mil e R$ 30 mil para uma delegacia de polícia, como se fosse bônus.
Bretas foi condenado. A decisão condenou ainda os delegados federais Carlos Pereira da Silva, Susie e Luiz Paulo Dias de Mattos e o agente federal Francisco Martins da Silva. Eles serão punidos por crimes como corrupção, violação de sigilo profissional e quadrilha.
As penas variam de cinco a 18 anos de prisão. Na sentença há menção a financiamento de campanhas de políticos no valor de R$ 23 mil e repasse de R$ R$ 61 mil a prefeituras.
Processo pode levar Anísio, Capitão Guimarães e Turcão de novo à prisão
O revés dos bicheiros pode se agravar nas próximas semanas. Isso porque Anísio, Capitão Guimarães e Turcão podem ser condenados e ter suas prisões decretadas em um outro processo, que corre na Justiça Federal. A ação, que está em fase de alegações finais, trata do crime de lavagem de dinheiro, consequência de investigações também a partir da Operação Furacão.
Outras 12 pessoas são réus neste processo de lavagem. Além da cúpula, o filho de Turcão, Marcelo Calil, e o sobrinho de Capitão Guimarães, Júlio, podem ser condenados novamente, assim como o empresário José Renato Granado Ferreira. Outros seis acusados, entre eles o ex-ministro Paulo Medina, ainda vão ser julgados pela Justiça Federal do Rio. Eles começaram a responder ao processo em 2007, em função do foro privilegiado, no Supremo Tribunal Federal. Mas já que perderam o privilégio, como é o caso de Medina, que foi aposentado, o ministro Gilmar Mendes determinou a transferência da ação para o Rio. Essa mudança não ocorreu ainda por que há dois recursos a serem julgados pela Corte.
Tudo acaba em samba
Presos terça-feira, Aílton Guimarães e outros quatro condenados estão em celas individuais no presídio de segurança máxima Alfredo Tranjan, conhecido como Bangu II, no complexo de Gericinó. O grupo ocupa a mesma galeria onde também cumpre pena de 23 anos o contraventor Wilson Vieira Alves, o Moisés.
Ex-presidente da escola de samba Vila Isabel, ele foi condenado em outro processo, também na Justiça Federal, por envolvimento com o jogo do bicho. Em Bangu II, há 1.100 presos.
Também condenados, Anísio está em prisão hospitalar e Turcão cumpre a pena em casa, em Niterói. Ontem ainda continuavam foragidos da Justiça dois condenados da Operação Furacão. São eles o empresário José Renato Granado Ferreira, braço internacional da quadrilha, e Marcelo Calil, filho de Turcão, que assumiu os ‘negócios’ do pai.
Sentença apesar de ameaças
Zelosa, dedicada e meticulosa são alguns dos adjetivos usados por ministros do STJ e STF para referendar decisões da juíza Ana Paula Vieira de Carvalho.
A sentença que atribuiu à quadrilha — as penas somadas passam de 400 anos de prisão — mostrou mais do que zelo. Foi corajosa ao sentenciar um grupo que, durante os cinco anos de processo, chegou a ameaçá-la de morte. Até hoje, os bicheiros só foram condenados por juízas mulheres — Denise Frossard foi a primeira, há 19 anos.
“Intimidações aos juízes viraram praxe”, disse ela a O DIA, há um ano. Em
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