quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Conexão Jornalismo - Dois tempos: Líbia antes e depois da "democratização"

A Líbia atual e a Líbia durante o regime Kaddafi
Por Altamiro Borges

Na quinta-feira (16), a "insuspeita" Anistia Internacional divulgou que as milícias armadas que derrubaram e mataram o ex-presidente Muamar Kadafi, com a ajuda indispensável dos misseis da Otan e dos mercenários dos EUA, estão totalmente "fora de controle”. Segundo a organização, "há um ano, os líbios arriscaram a vida para exigir justiça. Hoje, as suas esperanças se vêem prejudicadas por milícias armadas ilegais que pisoteiam os direitos humanos com impunidade".

Segundo o relatório, as gangues apoiadas pelas potências capitalistas efetuam prisões ilegais, torturam e matam pessoas suspeitas de serem simpatizantes de Kadafi. A Anistia Internacional visitou 11 presídios no centro e no oeste da Líbia durante janeiro e o início deste mês. As prisões são usadas pelas milícias e a organização coletou relatos de inúmeros detentos que foram torturados e maltratados nos locais.

Torturas e mortes com impunidade


Desde setembro passado, houve a confirmação de apenas 12 mortes nas prisões comandadas pelas milícias. O governo fantoche da Líbia não iniciou qualquer investigação sobre os assassinatos. A Anistia Internacional culpa o CNT (Conselho Nacional de Transição) por não combater as violações de direitos humanos. A impunidade garante a ampliação da barbárie no país.

Em janeiro, a organização Médicos Sem Fronteira (MSF) já havia anunciado que encerraria seu trabalho em prisões da cidade de Misrata. Ela constatou que o governo líbio torturava os presos. Desde agosto passado, a organização já havia tratado de 115 presos torturados. Em pronunciamento oficial, ela afirmou que as autoridades do país não tomaram providências contra os abusos.


Hala Misrati, a apresentadora  de televisão da Líbia, que ganhou fama por ser uma espécie de porta-voz da TV estatal e defesa radical do seu regime na frente das câmeras, foi morta em uma prisão na Líbia.


Oito mil prisioneiros

"Algumas autoridades tentaram obstruir o trabalho médico do MSF. Pacientes eram trazidos para serem tratados entre os interrogatórios para que estivessem em forma para a próxima sessão. Isso é inaceitável. Nosso papel é oferecer cuidado médico em casos de guerra e presos doentes, não tratar repetidamente dos mesmos pacientes entre sessões de tortura", afirmou o diretor geral da MSF, Christopher Stokes.

Segundo a ONU, cerca de oito mil simpatizantes de Kadafi foram presos durante os confrontos no país - além de milhares de mortos, a maior parte atingida pelos misseis da Otan. A situação dos prisioneiros é de total desrespeito aos direitos humanos. "A falta de controle por parte das autoridades centrais criam um ambiente propício para a tortura e os maus tratos", alerta Navi Pillay, a alta comissária da ONU para Direitos Humanos.

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