Leonardo Attuch _247 – Para que servem as palavras? Ou para que são necessárias quando se pode contar, sem elas, uma boa história, repleta de encantamento e magia? “O Artista” pode ser classificado como um dos melhores filmes de todos os tempos. E é ainda a maior homenagem prestada à sétima arte desde “Cinema Paradiso”, em 1998. Quem ainda não viu, vá correndo. E quem já viu, reveja.
Dirigido por Michel Hazanavicius, “O Artista” é um filme mudo que parece ser rodado como uma parábola de si mesmo. A história retrata a decadência de um artista, George Valentin, vivido por Jean Dujardin, e a chegada de uma nova estrela, Peppy Martin, interpretada por Berenice Béjo, quando o cinema mudo dá lugar ao cinema falado. Na vida, eterno movimento, tudo progride e se desenvolve. O velho dá lugar ao novo. E o público, como diz o diretor da companhia cinematográfica, tem sempre razão.
Valentin, maior estrela dos velhos tempos, vai do topo ao fundo do poço por não enxergar essa realidade e não se submeter às novas regras da indústria cinematográfica. Assim, Peppy, descoberta por ele, se torna a grande estrela do cinema falado. As histórias dos dois personagens, porém, estão interconectadas, entrelaçando emoções como amor, admiração, orgulho e vaidade. A cada instante, Hazanavicius comprova o poder da imagem, ao construir cenas em que, mesmo sem as legendas típicas do cinema mudo, o espectador consegue “ouvir” cada frase dita pelos atores. Chega ser pungente o momento em que a câmera retrata apenas os gestos faciais do que é dito por um policial ao artista quebrado e falido, que tenta manter sua dignidade.
Mesmo sendo uma produção francesa, “O Artista” levou cinco dos dez pêmios a que foi indicado no Oscar, incluindo melhor filme – e não melhor filme estrangeiro apenas. Dujardin, notório pelas aventuras do espião OSS 117, deveria ser uma celebridade no Brasil, pois um de seus melhores fimes – “Rio ne répond plus” – se passa no Rio de Janeiro e nem assim conseguiu entrar no circuito comercial, que hoje é industrializado em quase todas as salas de cinema do Brasil. Berenice Béjo é simplesmente arrebatadora.
Também recompensado com o prêmio de melhor diretor, Hazanavicius parece ter tentado nos provar que o cinema ainda pode produzir obras de arte. Ele conseguiu.
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