quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Conexão Jornalismo - Por que temem a queda do juro?

Houve um tempo, recente, em que juros altos eram o inimigo maior da economia do Brasil. Com a perspectiva de queda nas taxas ouve-se, de repente, uma grita contra a redução. O que estaria por trás da mudança de paradigma da economia brasileira?
Por que até algum tempo atrás o festejado ex-presidente José de Alencar, inimigo das estratosféricas taxas de juro do Brasil, falava o idioma do país quando criticava nosso modelo e hoje a mídia dá voz aqueles que defendem o contrário? O que mudou em tão pouco tempo? Este artigo de Altamiro Borges, do Blog do Miro, é um tanto esclarecedor.

Por Altamiro Borges

Após confirmar a nova – e ainda tímida – queda na taxa básica de juros, para 10,5% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgou a sua tão esperada “ata da reunião”. O documento traz uma sinalização positiva ao afirmar: “O Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares de um dígito”.

A “ata” surpreendeu o chamado “mercado” – nome fictício da minoria parasitária de rentistas e banqueiros que especula com as altas taxas de juros que ainda vigoram no país. Em tom terrorista, os “especialistas” do capital financeiro, muitos deles com espaço privilegiado na mídia, afirmam que uma nova queda da Selic comprometerá o controle da inflação e levará a economia ao “caos”.

A força dos rentistas*

A histeria dos rentistas é antiga e seu poder de pressão é muito forte – seja nos bastidores, com os seus financiamentos eleitorais, seja nos meios de comunicação de massa, com a costumeira manipulação terrorista. No reinado de FHC, eles impuseram o tripé neoliberal dos juros altos (política monetária), do superávit primário (política fiscal) e da libertinagem financeira (política cambial).

O governo Lula não rompeu, no essencial, com este tripé maligno. A famosa “carta ao povo brasileiro”, também batizada de carta aos banqueiros, e a indicação de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central confirmaram que não haveria rupturas na macroeconomia. Só com a eclosão da grave crise capitalista mundial, em 2008, a ortodoxia neoliberal sofreu alguns abalos.

Crise força mudanças na economia

Agora, novamente a prolongada crise força o governo Dilma a mudar de postura. No início, a sua gestão foi mais realista do que o rei e elevou, por cinco vezes, a taxa de juros – além de promover drásticos cortes fiscais. Nos últimos meses, porém, houve uma tímida reversão nesta política com o objetivo de aquecer o mercado interno, já que o externo está em acelerada decadência.

Os rentistas temem esta flexão na política monetária. Eles já não contam com Henrique Meirelles, o seu homem de confiança. Eles também não botam fé em Alexandre Tombini, o novo presidente do BC, que por várias vezes discordou dos rumos ortodoxos da gestão anterior. Daí a histeria contra o corte na taxa Selic e, principalmente, contra a alvissareira sinalização da “ata da reunião”.

* Expressão designa aqueles que ganham com aplicação mais do que com o trabalho ou produção.

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