sábado, 24 de março de 2012

Elas usam silicone.... eles, viagra: a Era da dureza chegou?



Por Adriana Barros


Será que estamos na Era da dureza? Ora! O que dizemos acerca do movimento em que todos se armam para encontrar o poder?
Cada vez venho escutando mais a queixa das pessoas referenciando o distanciamento entre os afins, a solidão e o isolamento. Na Era em que a tecnologia está em alta, o que pode está estimulando o afastamento entre as pessoas, o esquecimento frente à grandeza que a experiência da troca pode proporcionar e a sensibilidade acerca da necessidade entre humanos?
Reflito muito sobre o papel do poder na vida das pessoas, e o que elas fazem na tentativa de almejá-lo, e isso me conduz ao seguinte questionamento: fazer uso do silicone e do Viagra com o intuito apenas de impressionar, sobressair-se ou simplesmente gerar disputa e luta entre gêneros e depois reclamar de isolamento, demonstra uma atitude clara de fragilidade e imaturidade, uma verdadeira falta de referencia pessoal, dificuldade em expressar-se frente à habilidade emocional, e também frente à própria autoestima. Considero dissonante a queixa da solidão versus o ser responsável pela construção das barreiras.
Peitos duros e lindos, pênis eretos e prontos para o ataque..., será?


Quantos homens e mulheres enfrentam a negação do processo de envelhecimento? De quem é a culpa? Será que é de alguém?
Envelhecer é “Ser” o somatório de experiências e vivências que tornam o ser vivo. Morrer é não envelhecer.
Elas usam silicone, eles usam Viagra é uma reflexão acerca da vida, dos valores, da conscientização do indivíduo frente à existência. Será que ao endurecer os membros, também se endurece os corações?
O que é endurecer? Acredito ser a rigidez uma forma de expressar as defesas do nosso inconsciente, que Sá de nossa alma. A flexibilidade passa pelo proporcionar a si a condição de aprendizagem, ainda que pelo processo da dor. Digo sempre que o ser humano adoece, quando afasta de si seu verdadeiro EU, sua essência, sua verdade infinita, a magia de ser na vida.
É permitido “siliconizar” e “viagrar” o corpo, mas nunca endurecer a alma, nem tão pouco o coração. O momento é de sair do cárcere, lutar contra os próprios grilhões e perder o medo de amar, o medo de ser, o medo de existir.
A grande conquista do humano é a sua liberdade e se é livre quando se aprende o processo de aceitação tanto de si quanto dos demais indivíduos. Aceitar a si e aos outros é se libertar acima de tudo dos preconceitos, das ideias vazias e mundanas, é amar o próprio corpo, o próprio EU, a própria existência.
Homens e mulheres em harmonia, é uma gravura cada vez mais rara de se apreciar, vejo constantemente, casais que minam a felicidade e magoam a relação. Pergunto-me onde foi parar o respeito, o companheirismo, a amizade, o olhar?
Lembro-me do saudoso e adorável Gaiarsa, quando em um de nossos “papos”, me dizia que para ser feliz, bastava que usássemos os cinco sentidos, e que grande verdade, sábio psiquiatra, o quanto não se para mais para olhar, escutar, tocar, sentir o cheiro e o sabor?
Há quanto tempo se dá o afastamento do ser frente à mãe natureza, e se esquece que a natureza que silencia, convida ao recolhimento e este ao amadurecimento emocional.
Desejam-se gênios, e formam-se monstros. Enquanto homens e mulheres se digladiarem, rivalizarem e se machucarem, o encontro entre os afins se tornará mais distante. Que o silicone seja usado para fins de embelezamento e o Viagra para viver as catarses sexuais, mas não como armaduras nem armadilhas, não para enganar nem negar a condição humana.
O homem é o somatório de sua história de vida, e nisso o direcionamento se faz importante, saber quem se é, o que se deseja e de que maneira a busca será planejada.
Parece que a luta contra a gravidade cresce a cada dia, tudo se faz para manter a vida em alta, na era do ter, ou do faz de conta que tem, vale tudo. É peito, pênis, nariz, olhar, cabeça... uff!!! E o pior é quando tudo isso erguido, impede o sujeito de perceber o outro e o leva a agir com ares de superioridade.
Ignorar o outro é apenas um forma de cegar para a existência. Só se olha o outro, escuta o outro e se sente o outro, quando se é a referência das próprias escolhas.
Sabe-se ainda que o todo é maior que a soma das partes, já dizia o velho Fritz Pearls, e por vezes se insiste em focar em uma única situação, o sentimento de incapacidade se faz presente e aí os pensamentos são somatizados passando muitas vezes o corpo a ser vítima da existência. O problema é que o ser humano passa uma eternidade jogando o conflito para o organismo e depois querem resultados imediatos, receitas de afastamento de dor.
Querido leitor, afirmo que não há outra forma de crescimento, que não passe pelo processo de autoresponsabilidade. Perde-se tanto tempo com fugas e imediatismo, para depois se reclamar do mundo, da vida, de DEUS. Enquanto o ser humano não assumir-se como humano, poderá correr sérios riscos de viver as ilusões, as fantasias e a dicotomia frente à realidade. Que o silicone e o Viagra não venham enrijecer as mentes e os corações humanos, mas apenas embelezar o mundo e tornar a vida mais prazerosa.
*Adriana Barros é psicóloga especializada em Existencialismo e Fenomenologia


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